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Foto do escritorJackson Dias

Riscos e Realidades da Prata Coloidal: Separando Fatos de Ficção

A busca por alternativas naturais e suplementos alimentares tem levado à popularização da prata coloidal. No entanto, por trás das promessas de saúde, há riscos que precisam ser compreendidos.


Prata Coloidal: Um Olhar Cauteloso:

A prata coloidal é uma solução líquida que contém minúsculas partículas de prata suspensas. Embora apresentada como uma alternativa aos antibióticos, sua utilização requer atenção devido aos potenciais perigos.


Argiria: Quando a Pele Fica Azul



Argiria e seus Impactos

Um dos maiores perigos associados à prata coloidal é a argiria, condição em que a pele e órgãos internos ganham tonalidade azulada. Essa reação química ocorre pelo acúmulo de partículas de prata nos tecidos, resultando em uma pigmentação permanente e irreversível. Embora seja considerada um efeito colateral raro, pode ocorrer com o uso prolongado ou abusivo da prata coloidal.


Casos Surpreendentes:

Casos clínicos, como o do paciente que desenvolveu sinais de argiria após o uso de nanoprata em um curativo, destacam a seriedade desse risco.1


Toxicidade Sistêmica e Interferências Medicamentosas





Toxicidade Oculta

O consumo excessivo de prata coloidal pode levar a danos nos rins, fígado e sistema nervoso central. A prata é um metal pesado e concentrações elevadas têm o potencial de causar disfunções irreversíveis em órgãos vitais.

Essa toxicidade sistêmica pode causar sintomas graves e até mesmo comprometer a função adequada desses órgãos de forma irreversível. Em um outro estudo foi relatado que uma pessoa desenvolveu convulsões epilépticas e coma seguido de toxicidade neurológica irreversível após a ingestão diária de prata coloidal por 4 meses.2


Interações Perigosas:

A prata coloidal pode prejudicar a absorção de medicamentos essenciais, como antibióticos e hormônios, comprometendo tratamentos médicos e causando complicações adicionais.


Evidências Ausentes e Falsificação


Falta de Comprovação Científica:

Apesar das propriedades antimicrobianas conhecidas da prata, a eficácia e segurança de sua suplementação carecem de estudos clínicos sólidos. A ausência de evidências confiáveis levanta preocupações sobre seus benefícios e riscos.

Embora a prata realmente tenha efeito antimicrobiano identificado, o seu consumo indiscriminado na forma de sais de prata ou nanopartículas deve ser desencorajado. Usar a prata por que ela tem efeito antimicrobiano conhecido, é o mesmo que usar uma substância química perigosa porque ela impede o crescimento de microrganismos.

É importante ressaltar que a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) não reconhece a prata coloidal como um produtoseguro e eficazpara uso interno.No entanto, algunsfabricantes e defensores dessa substância continuam a promovê-la como um produto milagroso com propriedades curativas.


Falsificação e Incerteza:

A venda de produtos falsificados, erroneamente anunciados como contendo nanoprata, adiciona uma camada de incerteza e perigo ao uso da prata coloidal.

Um estudo de 2011 que analisou 92 amostras de produtos à base de prata descobriu que apenas 7 dos 92 produtos apresentados realmente continham nanoprata.3


Avaliação Criteriosa e Proteção da Saúde

Em um esforço para resolver a incerteza em relação à segurança da nanoprata, questões-chave sobre a nanoprata foram recentemente colocadas a um painel científico independente de revisão por pares.4 Revisão por pares é um tipo de estudo muito abrangente que analisa geralmente centenas ou mesmo milhares de estudos e suas variáveis, é considerado como um estudo do topo de linha, o Graal dos estudos. O Painel concluiu que os efeitos da nanoprata dependem de suas propriedades físicas, esses nanomateriais devem ser avaliados caso a caso.4 Esta conclusão é apoiada por estudos na literatura relatando que a toxicidade da nanoprata depende da morfologia e propriedades de superfície dessas nanopartículas.5-7 Embora a nanoprata tenha sido usada com segurança em alguns produtos de consumo, não se deve necessariamente inferir que todos os tipos de nanoprata são seguros para uso. Para garantir a segurança, a nanoprata deve ser avaliada caso a caso, considerando suas propriedades físicas e de superfície. A revisão por pares é fundamental para determinar a segurança de produtos contendo prata coloidal.


Conclusão:

Apesar da prata coloidal ser promovida como natural e segura, seus riscos são reais. A argiria, danos aos órgãos e interações medicamentosas são consequências potenciais do consumo desse produto. Consultar profissionais de saúde qualificados antes de considerar suplementação ou tratamentos alternativos é crucial para tomar decisões informadas e salvaguardar a saúde.



Referências

  1. Nowack, B., Krug, H. F., & Height, M. (2011). 120 years of nanosilver history: implications for policy makers. DOI: 10.1021/es200666n

  2. Mirsattari, S. M., Hammond, R. R., Sharpe, M. D., Leung, F. Y., & Young, G. B. (2004). Myoclonic status epilepticus following repeated oral ingestion of colloidal silver. Neurology, 62(8), 1408-1410.

  3. Trop, M., Novak, M., Rodl, S., Hellbom, B., Kroell, W., & Goessler, W. (2006). Silver-coated dressing acticoat caused raised liver enzymes and argyria-like symptoms in burn patient. Journal of Trauma and Acute Care Surgery, 60(3), 648-652.

  4. FIFRA Scientific Advisory Panel Meeting held November 3 - 5, 2009 on the Evaluation of Hazard and Exposure Associated with Nanosilver and Other Nanometal Pesticide Products. https://archive.epa.gov/osa/pdfs/web/pdf/epa-nanotechnology-whitepaper-0207.pdf (accessado em 10 de agosto, 2023).

  5. Carlson, C., Hussain, S. M., Schrand, A. M., K. Braydich-Stolle, L., Hess, K. L., Jones, R. L., & Schlager, J. J. (2008). Unique cellular interaction of silver nanoparticles: size-dependent generation of reactive oxygen species. The journal of physical chemistry B, 112(43), 13608-13619.

  6. Pal, S., Tak, Y. K., & Song, J. M. (2007). Does the antibacterial activity of silver nanoparticles depend on the shape of the nanoparticle? A study of the gram-negative bacterium Escherichia coli. Applied and environmental microbiology, 73(6), 1712-1720.

  7. El Badawy, A. M., Silva, R. G., Morris, B., Scheckel, K. G., Suidan, M. T., & Tolaymat, T. M. (2011). Surface charge-dependent toxicity of silver nanoparticles. Environmental science & technology, 45(1), 283-287.

Uma fonte adicional de pesquisa recomendada é o arquivo presente neste link. Nele temos um artigo do Dr Stephen Barrett. O artigo é de muitas décadas atrás (mas rico em informações), e revela que já naquela época a prata coloidal era uma grande preocupação. O Dr Stephen Barrett em seu artigo cita Rosemary Jacobs, uma vítima da argiria que escreveu um surpeendente livro sobre o mercado da prata coloidal. O livro (em tradução livre para o português chama-se: Argyria: A vida e as aventuras de uma mulher prateada no planeta Terra.


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